Por Cristian Favaro
São Paulo, 15/09/2020 – A multinacional brasileira Weg está de olho nas oportunidades abertas com o marco do saneamento, sancionado em julho pelo presidente Jair Bolsonaro. O governo espera atrair investimentos na ordem de R$ 700 bilhões para universalizar o tratamento de água e esgoto no País até 2033. Segundo um estudo interno da Weg, cerca de 4% desse montante, R$ 28 bilhões, deve ser usado para a compra de equipamentos que hoje são oferecidos pela empresa. O número demonstra a forte janela de faturamento para o grupo, que em 2019 teve receita de R$ 13 bilhões.
Em entrevista ao Broadcast, o Gerente Global para o Segmento de Águas da Weg, Rodrigo Cetenareski, disse que os investimentos devem começar no Brasil em 2021, com mais velocidade depois de 2022. “Eles vão gerar todo um capex de novas plantas, onde a gente acredita que haverá uma grande demanda por equipamentos eletromecânicos”, disse, ponderando que a procura começará a vir com mais força depois dos novos leilões. Até lá, uma etapa importante a ser vencida é a regulação do setor a ser feita pela Agência Nacional de Águas (Ana).
Não só com equipamentos eletrônicos a Weg pode faturar nesse processo. A empresa é uma das principais fabricantes do País de tintas para tubulação. Essa demanda, por sinal, tende a chegar antes. Além disso, com a maior rigidez do marco, plantas já em operação terão de iniciar também uma nova rodada de investimentos para conseguir cumprir as novas regras.
A meta do marco é alcançar 99% da população com o fornecimento de água e levar esgoto tratado a 90% dos brasileiros até 2033. Há possibilidade de se postergar o prazo até 2040, desde que se comprove a inviabilidade técnica ou financeira do projeto. Hoje, cerca de 33 milhões não têm acesso à água tratada e mais de 95 milhões não são contemplados com rede de coleta no País (quase a metade da população), de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), divulgados neste ano e referentes a 2018.
A Weg tem uma história longa com o saneamento. Desde sua fundação, em 1961, na cidade de Jaraguá do Sul (SC), o grupo oferece ao mercado uma gama extensa de equipamentos para bombeamento. O departamento que hoje é comandado por Cetenareski foi criado há cerca de três anos, abrindo mais espaço para o segmento de água e esgoto no grupo.
Enquanto o cenário no Brasil está engatinhando, a Weg tem participado de projetos em diversas partes do mundo. O mais recentes dele é a nova planta de dessalinização de água marinha, Rabigh 3, na Arábia Saudita, que está sendo construída na costa ocidental do Mar Vermelho. A empresa está fornecendo motores e inversores de frequência para os principais processos da cadeia de produção de água e faturou cerca de R$ 50 milhões com a empreitada. A Rabigh 3, cuja operação comercial está prevista entre o quarto trimestre de 2021 e primeiro de 2022, irá produzir 600.000 m3 de água por dia e abastecer aproximadamente três milhões de pessoas.
Um projeto no radar da empresa e que deve trazer frutos no Brasil é a planta de dessalinização a ser construída em Fortaleza, no Ceará, com capacidade de produção de 1 m³ por segundo. A estimativa é de um investimento na casa dos R$ 500 milhões. Cetenareski explicou que a empresa de engenharia responsável pelo projeto ainda não foi escolhida, mas a Weg já mantém contato com diversos grupos interessados. O prazo para a entrega das propostas de concorrência à Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) é 6 de outubro.
Segundo o sócio do escritório Toledo Marchetti, João Paulo Pessoa, as oportunidades no setor de saneamento com o marco vão chegar em duas etapas. “Na primeira, vamos sentir uma movimentação na indústria com a entrada de grupos privados nos projetos já em andamento, como em Alagoas e Rio de Janeiro. Daqui uns dois anos vamos ter a segunda fase, que é quando novos projetos serão estruturados e vão ser oferecidos no mercado”, disse.
Entre os desafios agora estão as normas de referência do setor, a serem elaboradas pela Ana, assim como a definição dos blocos nos estados. Está última etapa, diz o especialista, será fundamental para definir a atratividade dos projetos e investimentos a serem feitos. “Esse é o ponto que podemos ter mais conflitos”, disse Pessoa. Segundo a lei, os estados vão ter até julho de 2021 para definir os blocos. “Alguns já estão com isso pronto, como Sergipe e Bahia. Mas eu acho esse prazo curto para se fazer essas análises e equalizar os conflitos”, disse.